A criação de um Restaurante-Bar e Discoteca no interior de um antigo armazém, pretende ser um equipamento de apoio à habitação e serviços previstos no Plano de Urbanização de Matosinhos Sul. Por outro lado, pretende-se manter a memória da imagem física, característica da Matosinhos Sul Industrial dos séculos XIX e XX, que de resto, está em rápido desaparecimento .
Com este programa, que permite manter a preexistência física do edifício, salvaguarda-se a escala urbana da Praça da Fonte, que tem como contraponto o edifício Acia e a sua escala monumental .
Como é sabido, a habitação construída e a construir nesta zona da cidade, prevê estacionamento subterrâneo para residentes . Além disso as avenidas que se interceptam na rotunda , têm grande escala e desenvolvimento, permitindo vasto estacionamento de apoio aos inúmeros serviços, além da habitação .
A criação de um Restaurante-Bar Discoteca na proximidade de duas discotecas (Estado Novo e Traga Luz ), funcionará como dinamizador destes espaços, já que as pessoas poderão aparcar os seus carros na proximidade, jantar, conviver no bar, e depois seguirem a pé para as discotecas.
O edifício preexistente situa-se no gaveto da Av. Vila Garcia de Arosa e da Av D. Afonso Henriques, na zona chamada de Matosinhos Sul.
A proposta deste estudo prevê uma intervenção que não vai alterar a imagem e morfologia exterior do edifício. Também não vai alterar o pórtico estrutural e a cobertura existente, antes pelo contrário, este estudo organiza e sistematiza a estrutura existente remodelando e alterando apenas o espaço interior .
A proposta organiza-se a partir de um eixo definido pelo centro da rotunda-praça e pela mediatriz do arco de circunferência da fachada do armazém . A obra consiste na criação de um novo volume encerrado dentro do antigo (uma casa dentro da casa ), recriando no interior, dois átrios e um novo passeio que duplica o passeio público. Isto faz com que o movimento de pessoas durante o funcionamento do Restaurante-Bar Discoteca, seja para lá da fachada existente. Pretende-se não alterar o funcionamento da área exterior do domínio público. A criação de novos átrios exteriores, no interior do armazém, decorre também da necessidade de isolar e insonorizar a nova caixa interior , dentro da qual se organiza todo o programa. A partir de dois átrios diferentes, acede-se por duas portas, a dois espaços semelhantes e simétricos, articulados entre si por uma área de distribuição com pé-direito duplo. Estas duas ordens ortogonais interceptam-se no palco , conferindo a este espaço, a articulação de planos de maior expressividade e proporcionando uma forma hexagonal à pista de dança, o que é bom pela centralidade, quer controlando a organização do espaço, bem como a qualidade acústica.
Ao fundo, na confluência das duas zonas de Restaurante e de Bar ficam os diferentes serviços: cozinha , copas , arrecadações , instalações sanitárias do público e do pessoal.
Tanto o restaurante, como o bar desenvolvem-se em dois pisos sobrepostos que comunicam através de escadas que organizam outros dois átrios interiores de distribuição.
Prevê-se também a criação de uma rampa que permite um fácil acesso a deficientes ao piso superior.
Importa também referir o esquema de evacuação de emergência , composto por dois percursos longitudinais, ao eixo dos dois volumes paralelepipédicos no enfiamento das saídas para o exterior. Existe ainda uma grande galeria de saída de emergência, a partir dos serviços até ao átrio exterior de entrada do bar. Esta galeria é completamente encerrada com portas corta-fogo e com fechaduras anti-pânico. Com esta organização dá-se integral cumprimento à exigência de tripla saída de emergência para o exterior.
Todos os materiais são pobres, já que se trata de uma obra particular, para um cliente com perspectiva comercial. Assim sendo, utilizou-se calcário semi-rígido, madeira de pinho e pladurs, mas que desta forma associados resultam de forma a conseguir retirar a expressão que se pretendia da luz.
Existem desfasamentos nas paredes que proporcionam uma caixa de ar, onde se encontram todas as infra-estruturas de apoio técnico: insuflação de ar, cablagens e todo o tipo de electricidades e materiais de absorção acústica, criando também as pretendidas condições para iluminar indirectamente todo o ambiente.
No tecto da pista de dança e nas clarabóias encontram-se igualmente escondidas as condutas de extracção do ar; a torção destas clarabóias deve-se à orientação, configuração e aproveitamento máximo da cobertura preexistente, que se teve que manter obrigatoriamente.
“As cores suscitam emoções” (Wolfgang Goethe).
É importante a presença da cor. Ela cria estímulos e diferentes emoções consoante as diversas situações.
A luz e ambiente da discoteca podem, através de um percurso, ou seja, através do tempo, irem-se transformando e ganhando inúmeras expressões. É ir buscar o nosso eu, associado ao nosso estado de espírito, que oscila e transporta essas mesmas emoções para o exterior, procurando que se leia e sinta através do espaço a personalidade e o fluir das emoções que ali se vão gerando. O espaço exprime-se como se tivesse alma.
Gostava de ter ido mais longe e ter associado o sistema informático que conduz e transforma a luz, aos ritmos, intensidades e variações da música, cheios e vazios, som e ausência de som, luz e ausência de luz, mas as limitações económicas não permitiram fazê-lo.
É efectivamente possível pintar através da arquitectura, como é possível também esculpir a forma e o espaço através desta actividade.
Neste caso a cor surge a partir da luz e assim está impregnada no ar, no vazio, no espaço (essência da arquitectura), só depois de projectando nos limites ou superfícies.
É possível transformar o ambiente a cada momento, com milhões de possibilidades.