1998 DISCOTECA MANTRA

 

RESTAURANTE/DISCOTECA EM MATOSINHOS 

A criação de um Restaurante-Bar e Discoteca no interior de um antigo armazém, pretende ser um equipamento de apoio à habitação e serviços previstos no Plano de Urbanização de Matosinhos Sul. Por outro lado, pretende-se manter a memória da imagem física, característica da Matosinhos Sul Industrial dos séculos XIX e XX, que de resto, está em rápido desaparecimento .
Com este programa, que permite manter a preexistência física do edifício, salvaguarda-se a escala urbana da Praça da Fonte, que tem como contraponto o edifício Acia e a sua escala monumental .
Como é sabido, a habitação construída e a construir nesta zona da cidade, prevê estacionamento subterrâneo para residentes . Além disso as avenidas que se interceptam na rotunda , têm grande escala e desenvolvimento, permitindo vasto estacionamento de apoio aos inúmeros serviços, além da habitação .
A criação de um Restaurante-Bar Discoteca na proximidade de duas discotecas (Estado Novo e Traga Luz ), funcionará como dinamizador destes espaços, já que as pessoas poderão aparcar os seus carros na proximidade, jantar, conviver no bar, e depois seguirem a pé para as discotecas.
O edifício preexistente situa-se no gaveto da Av. Vila Garcia de Arosa e da Av D. Afonso Henriques, na zona chamada de Matosinhos Sul.
A proposta deste estudo prevê uma intervenção que não vai alterar a imagem e morfologia exterior do edifício. Também não vai alterar o pórtico estrutural e a cobertura existente, antes pelo contrário, este estudo organiza e sistematiza a estrutura existente remodelando e alterando apenas o espaço interior .
A proposta organiza-se a partir de um eixo definido pelo centro da rotunda-praça e pela mediatriz do arco de circunferência da fachada do armazém . A obra consiste na criação de um novo volume encerrado dentro do antigo (uma casa dentro da casa ), recriando no interior, dois átrios e um novo passeio que duplica o passeio público. Isto faz com que o movimento de pessoas durante o funcionamento do Restaurante-Bar Discoteca, seja para lá da fachada existente. Pretende-se não alterar o funcionamento da área exterior do domínio público. A criação de novos átrios exteriores, no interior do armazém, decorre também da necessidade de isolar e insonorizar a nova caixa interior , dentro da qual se organiza todo o programa. A partir de dois átrios diferentes, acede-se por duas portas, a dois espaços semelhantes e simétricos, articulados entre si por uma área de distribuição com pé-direito duplo. Estas duas ordens ortogonais interceptam-se no palco , conferindo a este espaço, a articulação de planos de maior expressividade e proporcionando uma forma hexagonal à pista de dança, o que é bom pela centralidade, quer controlando a organização do espaço, bem como a qualidade acústica.
Ao fundo, na confluência das duas zonas de Restaurante e de Bar ficam os diferentes serviços: cozinha , copas , arrecadações , instalações sanitárias do público e do pessoal.
Tanto o restaurante, como o bar desenvolvem-se em dois pisos sobrepostos que comunicam através de escadas que organizam outros dois átrios interiores de distribuição.
Prevê-se também a criação de uma rampa que permite um fácil acesso a deficientes ao piso superior.
Importa também referir o esquema de evacuação de emergência , composto por dois percursos longitudinais, ao eixo dos dois volumes paralelepipédicos no enfiamento das saídas para o exterior. Existe ainda uma grande galeria de saída de emergência, a partir dos serviços até ao átrio exterior de entrada do bar. Esta galeria é completamente encerrada com portas corta-fogo e com fechaduras anti-pânico. Com esta organização dá-se integral cumprimento à exigência de tripla saída de emergência para o exterior.
Todos os materiais são pobres, já que se trata de uma obra particular, para um cliente com perspectiva comercial. Assim sendo, utilizou-se calcário semi-rígido, madeira de pinho e pladurs, mas que desta forma associados resultam de forma a conseguir retirar a expressão que se pretendia da luz.
Existem desfasamentos nas paredes que proporcionam uma caixa de ar, onde se encontram todas as infra-estruturas de apoio técnico: insuflação de ar, cablagens e todo o tipo de electricidades e materiais de absorção acústica, criando também as pretendidas condições para iluminar indirectamente todo o ambiente.
No tecto da pista de dança e nas clarabóias encontram-se igualmente escondidas as condutas de extracção do ar; a torção destas clarabóias deve-se à orientação, configuração e aproveitamento máximo da cobertura preexistente, que se teve que manter obrigatoriamente.
“As cores suscitam emoções” (Wolfgang Goethe).
É importante a presença da cor. Ela cria estímulos e diferentes emoções consoante as diversas situações.
A luz e ambiente da discoteca podem, através de um percurso, ou seja, através do tempo, irem-se transformando e ganhando inúmeras expressões. É ir buscar o nosso eu, associado ao nosso estado de espírito, que oscila e transporta essas mesmas emoções para o exterior, procurando que se leia e sinta através do espaço a personalidade e o fluir das emoções que ali se vão gerando. O espaço exprime-se como se tivesse alma.
Gostava de ter ido mais longe e ter associado o sistema informático que conduz e transforma a luz, aos ritmos, intensidades e variações da música, cheios e vazios, som e ausência de som, luz e ausência de luz, mas as limitações económicas não permitiram fazê-lo.
É efectivamente possível pintar através da arquitectura, como é possível também esculpir a forma e o espaço através desta actividade.
Neste caso a cor surge a partir da luz e assim está impregnada no ar, no vazio, no espaço (essência da arquitectura), só depois de projectando nos limites ou superfícies.
É possível transformar o ambiente a cada momento, com milhões de possibilidades.

 

The project for a Restaurant-Bar and Disco on the inside of an old warehouse aims to provide supporting equipment to the residential and service area anticipated in the Town Planning Scheme for the southern part of Matosinhos. Also, its goal is to preserve the memory of the typical industrial features of the city of Matosinhos during the late 19th and beginning of the 20th centuries, which, as it is, tends to disappear rapidly.
This programme is designed to maintain the pre-existing building, thus safeguarding the urban scale of the Praça da Fonte, which is counterbalanced by the Acia building, in its monumental scale.
As we know, both built and unbuilt blocks in this part of town are supposed to have subterranean car park for residents. Furthermore, the avenues which join in the roundabout are large in scale and open to development, offering numerous parking spaces to serve the many services, besides habitation.
The opening of a Restaurant-Bar & Disco in the immediate vicinity of two other discos (Estado Novo and Traga Luz), will bring new dynamics to these spaces, since users will have the possibility to park their cars, have dinner in the restaurant, relax at the bar, and then go to the disco, all within walking distance.
The pre-existing building is situated in the corner of Avenue Vila Garcia de Arosa and Avenue D. Afonso Henriques, in the area known as Matosinhos-Sul.
This study puts forward an intervention that does not alter the exterior image and morphology of the building. Neither does it change the structural portico and the existing top; on the contrary, this project organises and systematises the existing structure, modifying and renovating solely the interior space.
This proposition is laid out from an axis defined by the centre of the roundabout-square and by the perpendicular to the circumference’s arch of the warehouse’s façade. The work consists in creating a new volume built inside the old (a house within a house), recreating in the interior two lobbies and a new path which duplicates the public pavement. This causes the movement of people during the Restaurant-Bar & Disco’s opening hours to occur away from the existing façade. The goal is not to alter the regular activity of the exterior area, which is in the public domain. The construction of new exterior halls, inside the warehouse, also derives from the need to isolate and soundproof the new interior volume, inside which all the programme is organised. From two different lobbies, access is gained by two doors, to two similar and symmetrical spaces, which connect in a distribution area with double ceiling height. These two right-angle orders meet in the stage, a space that by articulating these levels acquires a strong expressiveness. The hexagonal shape of the dance-floor is designed to captivate central attention, to control the space arrangement and it is also good in terms of acoustic quality.
To the back, at the convergence point of Restaurant and bar, is where the different amenities are located: kitchen, utility rooms, pantries and toilets for the staff and for the public.
Both restaurant and bar are implanted in two superimposed levels that communicate through stairs and organise the two other inner distribution lobbies.
The project also supposes the construction of a ramp to facilitate the access of the physically disabled to the upper floor.
It is also worth mentioning the emergency evacuation plan, based on two longitudinal passageways, along the two parallelepipedic volumes that lead to the exits. There is yet another ample gallery that serves an emergency exit, from the service area to the exterior lobby, which leads to the entrance of the bar. This gallery is totally equipped with fire doors and locks with anti panic function. This plan was designed in strict accordance with the regulations, which state that the building must have three emergency exits to the outside.
The materials used in the construction are poor, which is not uncommon, given it was a private work, developed for a client focused on commercial prospects. Consequently, semi-rigid limestone, pine wood and Pladur® walls were employed; however, the manner in which they were combined contributed to explore maximal effects from the light.
The plasterboard walls are built with an inner gap to provide ventilation space and also to install all technical infrastructures: air conditioning, wiring and all sorts of electrical cables, and acoustic insulation materials; moreover, it enabled to create special and indirect lighting conditions for the whole space.
Up in the dance floor ceiling and skylights, the air extraction system pipes have been discreetly installed; the skylights’ torsion is due to the general orientation, configuration and maximal exploitation of the pre-existing rooftop which was compulsorily maintained.
“Colours arouse emotions” (Johann Wolfgang von Goethe).
The presence of colour is very important. Colour creates stimuli and a range of different emotions according to the many possible situations.
Light and ambiance in a disco may, through a given trajectory, or better yet, through the course of time, transform and acquire a myriad of expressions. It is the search for our true self, associated with our state of mind, that oscillates and forces those emotions to come out, seeking to read and feel through space the character and the flow of all the emotions that the place generates. Space expresses itself as if it had a soul of its own.
It would have been very interesting to push forward with the tech system that regulates and controls the light, and associate it with rhythms, music variation intensities, ups and downs, sound and silence, light and shadow, however, budgetary constraints didn’t allow it to happen.
It is in fact possible to paint by means of architecture, just as it is possible to sculpt form and space.
In this case, the colour formed in light impregnates the air, the stillness of space (the quintessence of architecture), only then projecting surfaces and limits.
It is possible to transform the environment at every moment, and ahead of us lie millions of possibilities.